Mendigos em São Paulo
Faminto!
Revirava o corpo disforme
No concreto quente do mundo.
Nada justificava tamanha
dor
Cortando este ser,
Gritando suas entranhas.
Escorrendo suor no seu rosto
frio
De olhar vago e sombrio,
Gelatinoso, amoldava-se ao
solo.
Nos olhos, alucinação!
Na cabeça, consumação!
Fome! A miséria do ser.
Como falar de felicidade,
De alegria, de caridade!
Num mundo de maldade,
Num mundo de confrontos,
Num mundo sem liberdade.
Como falar de felicidade,
De alegria, de caridade!
Se na eternidade não
encontra o pão.
A redenção do dever cumprido
Vendo passar o tempo
No tempo do instante sofrido.
Como falar de felicidade
De alegria, de caridade!
Se a revelação não produz a
essência,
Não induz a gratidão,
Não refaz a benevolência,
Não traduz a escuridão.
Como falar de felicidade
De alegria, de caridade!
Se faminto está o mundo,
Excremento de vagabundos
Famintos de não poder gritar
O grito dos excluídos,
Dos caídos,
Dos mal vestidos,
Dos miseráveis.
Famintos de fome, dementes,
Sem teto, sem nada na mente,
Que lhes possa parecer um
lar.
Como falar de felicidade
De alegria, de caridade!
Quando se tem fome!
Fome de comer lixo,
Fome de comer bicho,
Podre, se no lixo tiver,
Se na rua, na sarjeta,
escorrer,
Excremento do prazer
Das mesas colossais.
Origem dos bacanais,
Dos que vivem sem limites.
Como falar de felicidade
De alegria, de caridade!
Sentindo fome do saber!
Poder conhecer e não ser
A verdade contemplada,
O tamanho do seu tamanho,
A bondade cancelada.
Conhecer do perdão, sem
conceber,
Deglutindo conhecimentos
nocivos
Na febre de poder encontrar
Tudo o que possa levar
À morte só por morrer.
Alvaro Oliveira
São Paulo, 27/02/2012