No dia 28 de Fevereiro de 2014 minha filha sofreu a violência
do medo.
Dez crianças esquálidas colocaram-se à frente do seu carro,
todas armadas.
A graça de Deus a salvou cegando momentaneamente seus
algozes.
Dor
Preâmbulo
De um epitáfio...
Perambulando
Passando
Pela rua
Noite escura
Amargura
Jovens
Inconsequentes
Cheios de dor
De fúria
Feras acuadas
Fecham calçadas e ruas
Com destemor
Matam!
Sentindo dor
Dor de fome
Hoje não comi
Ontem não comi
Quando eu comi?
Não lembro!
Sinto fome de verdade
Sinto fome de decência
Sinto fome de paz
Sinto fome de amor
Sinto fome de mais
Mais
alegria
Mais
liberdade
Mais
felicidade
É uma fome
Que inunda
Todo
O meu ser
Todas as vezes
Que penso em sair
Correr
Brincar de alegria
Mas
a
Dor
Dor
Dor
Dor
Dor
Contagia
E
vírus
Que
mata
Por favor?
Preciso viver
Esquecer
Que estou prisioneiro
Sem
correntes
Sem
amarras
Sem
algemas
Sem
fantasmas a me perseguir
A
me prender
Estou
escravo
Do
medo
Medo
Fazendo-me sofrer
Na clausura
De uma gaiola
Que não se vê
Mas está...
Medo
Que aflora
E toma conta
De toda a minha mente
Somente
Carente
Latente
Dormente
É a dor semente
De não poder me expandir
De não ter pra onde ir
De sentir-me
Impotente de reagir
Ante a violência
Que castra todas as chances
De felicidade
E transforma
A vida
Em dor
Idade
Não
sei
Maldade
Não
sei
Intensidade
Não
sei
É uma dor
Que dói
Profundamente
Nas entranhas
Da minha alma
Sem
calma
Sem
calma
Sem
calma
Sem
calma
Dor
Perambulo
No gueto
Unguento
Sem cor
Sem porta
Sem janela
Meu sangue sumiu
Meu olhar turvou
Minha boca travou
Meu corpo tremeu
Meus ouvidos zuniram
Com o estampido
Da arma
Bramindo
No ar
Sinto cheiro de podridão
Luzes me ofuscam
Armas me ameaçam
Luzes
me ofuscam
Armas
me ameaçam
Luzes
me ofuscam
Armas
me ameaçam
Quem sou?
Que dor eu sinto?
Dor de nome?
Sou um a mais
Nas estatísticas
No meio de milhares
Que disfarçam
Não entender
A dor da violência
Da impunidade
Idade
Não
sei
Maldade
Não
sei
Intensidade
Não
sei
Hoje ninguém me chamou
Ontem ninguém me chamou
Quando alguém me chamou?
Dor
Perambulo
Clemência
Peço clemência
Pois não sei
Pois não sinto
Pois não minto
Preciso
de liberdade!
Não tenho
Coragem para me expor
Socorro!
Esta dor
Dói...
Alvaro de Oliveira Neto
Fortaleza, 05/03/2014